Jogo de Búzios

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O Jogo de Búzios

O jogo de búzios é uma das artes divinatórias utilizada nas religiões tradicionais africanas e na religiões da Diáspora africana instaladas em muitos países das Américas. Religiosamente, é conhecido como Éérìndínlógún, sendo, junto com a Noz de Cola (obì), o oráculo mais antigo dos Iorubas.

Existem muitos métodos de jogo, o mais comum consiste no arremesso de um conjunto de 16 búzios sobre uma mesa previamente preparada, e na análise da configuração que os búzios adotam ao cair sobre ela. O adivinho, antes reza e saúda todos os Orixás e durante os arremessos, conversa com as divindades e faz-lhes perguntas. Considera-se que as divindades afetam o modo como os búzios se espalham pela mesa, dando assim as respostas às dúvidas que lhes são colocadas.

O Búzio

Búzio, concha de praia de vários tamanhos (Cowry shell ), utilizada como objeto de adorno nas roupas dos Orixás onde são aplicados formando desenhos, em colares chamados de fio-de-contas onde são colocados como fecho ou como Brajá totalmente feito de búzios imitando as escamas de uma cobra e também como objeto de comunicação com os Orixás nas consultas ao jogo de búzios e Merindelogun ou Éérìndínlógún.

O búzio tem uma abertura natural e uma parte ovalada, a maioria dos adornos e jogos de búzios são feitos com os búzios cortados, onde é tirada a parte ovalada do mesmo.

Existe muita discussão sobre qual seria o aberto e o fechado. Há a visão das pessoas que consideram a parte quebrada como sendo o aberto. Outros consideram que a abertura natural do búzio seja o aberto e a outra que é quebrada e ralada seja o fechado. Alguns sacerdotes jogam com os búzios inteiros nesse caso o aberto é a abertura natural do búzio. Entretanto, as expressões "aberto" e "fechado" parecem ser muito mais da Diáspora, do que dos Iorubas.

História

Sua origem é médio-oriental, mais precisamente a região da Turquia. Penetrou na África junto com as invasões daqueles povos aos africanos.

Usado para consultar o futuro, de acordo com a religião Batuque, Candomblé, Omoloko, Tambor de Mina, Umbanda, Xambá, Xangô do Nordeste ou como adorno em roupas dos Orixás e para confecção de alguns fio-de-contas, também é usado em outras religiões afro-descendentes em vários países.

No Brasil os búzios, conchas pequenas de praia, são usados pelos Babalorixás e Iyalorixás para comunicação com os Orixás, nas consultas ao jogo de búzios ou Merindelogun. Na África, os cawris eram usados como dinheiro, onde foi moeda corrente.

Em 1830 em Salvador, Bahia, eram raros os que tinham a função do jogo de búzios por Odu, que era consultado apenas para os desígnios do plano divino, diferente do tempo atual que é procurado para resolução de vários tipos de problemas inerentes aos conflitos existenciais, e a busca de conhecer seus procedimentos, e que encanta não só ao povo do santo.

O jogo de búzios instituído no Brasil contribuiu para a organização do Candomblé, sofrendo transformação para ser utilizado pelas mulheres e no futuro, por todos os dirigentes de Candomblés que vieram a ser formados. Esta nova modalidade foi feita por Ìya Nàsò e Bàbá Asikan que depois de libertos da escravidão, viajaram para a África e voltaram depois de sete anos. Esta simplificação tornou-se menos complexa, promovendo uma mudança radical de status religiosos. A autoridade dos antigos Bàbáláwo e Bokonun que ocupavam a hierarquia máxima sacerdotal na África, desapareceu no Brasil, tornado os Babalorixá e Iyalorixá independentes, dirigentes de seus próprios terreiros de Candomblé. Ficando apenas o costume daquele que joga intitular-se Bàbáláwo, embora indevido, pois este título é aplicado somente para quem joga o Ifá ou Opele-Ifá.

Por outro lado os sacerdotes de nações Bantos que já tinham seu próprio jogo de búzios e não eram orientados pelas caídas de Odu, nessa ocasião passaram a mesclar seu jogo, ora por caída ora por Odu, mas muitos deles optaram por continuar usando seus métodos de jogo, mantendo suas tradições.

Segundo outras fontes, a concha é originária das Ilhas Maldivas, no Oceano Índico. Foi introduzido na Africa Ocidental pelos portugueses, e passou a funcionar como moeda de troca, em substituição à Noz de Cola.

Adotado pelas mulheres pelo fato de que o Opele-Ifá e Opon-Ifá (jogos divinatórios originalmente africanos) é destinado somente aos homens.

O Éérindinlogun significa "dezesseis" e, a rigor, a palavra Iorubá propriamente dita nada tem a ver com a concha marítima originária das Ilhas Maldivas. Antes da introdução das conchas pelos portugueses, o oráculo Éérìndínlógún já era praticado pelos Iorubás através da semente da Nóz de Cola. As conchas, por serem mais duráveis, apenas substituíram a Nóz de Cola. Por extensão, a palavra Éérìndínlógún virou sinônimo das dezesseis conchas oraculares, mas cabe ressaltar que o método oracular já era praticado com a Nóz de Cola.

Ao substituir a Nóz de Cola, entrou na vida e na cultura Yorubá e enraizou-se tão profundamente que hoje o Merindilogun (jogo de búzios) é mais conhecido que o oráculo dos Babalawos (o Opele-Ifá e Opon-Ifá). É também o mais utilizado no Brasil.

No entanto, segundo algumas correntes e crenças nem todas as pessoas podem ler búzios. Esta prática está destinada apenas à pessoas com uma forte espiritualidade. De forma geral estão pré destinadas às Mães, Pais, ou filhos de Santo após a obrigação de sete anos com o recebimento dos direitos, autorização e ensinamentos dado pela mãe ou pai de Santo.

Métodos de Jogo

Além dos búzios pode-se utilizar outros objetos para consulta dos Orixás: Obí, Orobô, Alobaça (cebola), atarê (pimenta da costa), ossos, víceras, e outros.

No jogo com quatro búzios, mais utilizado nos rituais para perguntas, normalmente as caídas correspondem às caídas do jogo de Obi mas quantidade de búzios pode váriar de acordo com a nação. O mais comum é composto de 16 ou 17 búzios, mas o jogo com 21 búzios também é muito comum.

Alguns métodos, não se baseiam em caídas por Odú como no Merindilogun, usam outras configurações e combinações de búzios abertos e fechados dividindo-os em quatro grupos de quatro búzios (que chamam de barracão) e analisam as quatro caídas e a disposição que elas se encontram, nesse tipo de Oráculo não se fala em Odú.

Um outro método de jogo é feito com as víceras dos animais oferecidos aos Orixás, e um outro jogo que utiliza ossos de animais unicamente ou em combinação com búzios, em ambos casos também não são orientados por caídas de Odú.

Em alguns métodos o olhador (adivinho) senta-se no chão e joga na própria terra, sem toalhas e enfeites como era feito no passado, é um jogo mais simples e rústico.

Em outros, podem ser jogados apenas em uma toalha branca numa mesa, ou num círculo formado por fio-de-contas (colares) com vários objetos representativos dos Orixás ou numa peneira também com fio-de-contas e objetos. Existem mesas de jogo simples ou sofisticadas. Dependendo das posses podem conter até sinetas e objetos de ouro. Jamais deve ser jogado em cima do Opon-Ifá, instrumento próprio do babalaô.

É diferente do Opelé-Ifá e do Opon-Ifá que são orientados por caídas de Odú, são apenas utilizados pelos Babalawos sacerdotes de Orunmila. A consideração entre aberto e fechado do búzio também pode variar, a grande maioria dos Babalorixás utiliza a abertura natural do búzio como sendo o lado "aberto", mas várias mulheres no culto do Candomblé, principalmente na Nação de Keto, acostumaram a jogar como "aberto" o lado em que elas "abriam" o búzio, assim a fenda natural sendo o lado "fechado", afirmando que o verdadeiro segredo em um búzio fica guardado em seu estado natural, este é revelado apenas após sua abertura cerimonial arrancando-se esta parte até então fechada, assim vários Babalorixás e Iyalorixás que aprenderam por este método fazem esta forma "invertida" de leitura, ao apresentado nas imagens.

A grande verdade é que ao sagrar um formato onde seja considerado aberto/fechado, este sacerdote não mais o inverte e passa aos seus filhos o conhecimento desta forma, assim sendo particular de cada casa o cenário de leitura.

Existe também o método que é dado um significado para cada búzio, e um deles que normalmente é o maior é atribuído a qualidade de representante de Deus, e recebe o nome de Oxalá. Os outros falam através dele. Um exemplo: Depois de lançar as pedras do jogo, o bico do búzio maior (Oxalá) vai verificar quais os búzios que caíram em sua direção. Esses que caíram na linha deste búzio falam no jogo de acordo com a sua característica. Os que caíram atrás do búzio, ou seja, que não estão na frente do bico do búzio, falam pelo passado.

Meridilogun

É um dos muitos métodos divinatórios utilizado pelos Babalawos, Babalorixás e Iyalorixás que conta com 16 búzios. É um método diferente do jogo de búzios, pois nele ocorre a interpretação das caídas dos búzios por odù e cada odù indica diversas passagens de acordo com a mitologia yorubá.

Merindilogun ou Merindelogun - vem da palavra Erindinlogun e a tradução é dezesseis, sistema utilizado na África pelos Yorubás algumas vezes chamado de Dilogun (forma abreviada de Merindilogun), entregue ao sacerdote no ritual de oyê depois da obrigação de odú ejé.

No Merindilogun, antes do arremesso dos búzios é Ifá o intermediário, quando eles caem dando a quantidade, o intermediário passa a ser Exu Elegba, que sempre acompanha Ifá. As caídas são dadas conforme a quantidade de búzios abertos e fechados resultante de cada arremesso. A resposta para cada quantidade de búzios abertos e fechados, corresponde um Odù e como ocorre no Opele-Ifá, esse odù deve ser interpretado, transmitindo-se ao consulente tanto o significado da caída, quanto o que deve ser feito para solucionar o problema.

O que é Odù

Odù é um conceito do culto de Ifá também usado no candomblé, interpretado no Merindilogun, na caída de búzios.

A palavra odu vem da língua iorubá e significa destino. Cada homem (ser) possui o seu destino que se assemelha a de outros mas sempre com alguma particularidade. Para esse estudo são usadas diversas técnicas ou métodos oraculares, como por exemplo o Merindilogun, o Opele-Ifá, o Ikin, etc.

O Culto de Ifá por costume é feito por homens, chamados Babalawô, diferente dos cultos realizados no Candomblé que são praticados por homens Babalorixá e mulheres Iyalorixá. Quando alguém quer cuidar de seu Orixá procura um Babalorixá ou Iyalorixá, mas quando é para tratar de seu equilíbrio enquanto Ser, procura um Babalawô que o fará pelos caminhos de Odu.

A consulta através dos Odus pode ser interpretado pelo Oráculo de Ifá, com os Odu Meji (duplos destinos ou repetidos duas vezes) são em número de 16 e conhecidos como Odu Originais ou Principais.

No sistema Ifá, que é o sistema de adivinhação iorubá, os 16 odus são os caminhos da vida. Cada pessoa tem o seu caminho revelado por Ifá através do Odu.

O sistema geomântico usa 16 conchas, ou grãos, ou cocos, conforme a região. A forma de lançar os búzios possibilita 256 combinações ou figuras, e para cada uma delas existem versos (itans) que são decorados pelo babalawô. O sistema, hereditário, exige longo aprendizado e provas.

Existem dezesseis odu maiores no corpo literário Odù Ifá ('livros'). Combinados, resultam num total de 256 odu, acreditando-se referirem a todas as situações, circunstâncias, ações e consequências na vida. Constituem a base do conhecimento tradicional espiritual e todos os sistemas de adivinhação iorubá.

I é uma conta ímpar ou um resultado de "cabeça", e II é uma conta par ou mesmo um resultado "enfraquecido". Os dezesseis padrões básicos e seus nomes Yorubá figuram na tabela abaixo. Esta é apenas uma forma de ordená-los, que muda dependendo da área na Nigéria, ou da diáspora e também outra forma utilizada em Ibadan e Cuba. Isso muda o desfecho de certas partes da leitura.

Veja na tabela, os 16 Odùs originais ou principais, seus nomes, representação em Ifá, ordem de chegada no Àiyé (Terra) e ordem de caída para consulta ao Oráculo.

Os 16 Odùs principais
Nome 1 2 3 4
Ogbe I I I I
Oyẹku II II II II
Iwori II I I II
Odi I II II I
Ọbara I II II II
Ọkanran II II II I
Irosun I I II II
Iwọnrin II II I I
Ogunda I I I II
Ọsa II I I I
Irẹtẹ I I II I
Otura I II I I
Oturupọn II II I II
Ika II I II II
Ọsẹ I II I II
Ofun II I II I

Caída de Búzios

Opon Meridilogun.
Um búzio aberto - Okaran
Dois búzios abertos - Ejiokô
Três búzios abertos - Etaogundá
Quatro búzios abertos - Irosun
Cinco búzios abertos - Ôxê
Seis búzios abertos - Obará
Sete búzios abertos - Ôdi
Oito búzios abertos - Êjioníle
Nove búzios abertos - Ossá
Dez búzios abertos - Ôfun
Onze búzios abertos - Ôwarin
Doze búzios abertos - Êjilaxeborá
Treze búzios abertos - Êjilobon
Quatorze búzios abertos - Iká
Quinze búzios abertos - Obéogundá
Dezesseis búzios abertos - Êjibé

Como Oxum conseguiu o Segredo Do Jogo De Búzios

Essa lenda conta como Oxum conseguiu o Segredo do Jogo de Búzios (meridilogun), a Orixá Oxum queria saber o segredo do jogo de búzios que pertencia a Exú e este não queria lhe revelar. Oxum foi procurá-lo. Ao chegar perto do reino de Exú, este desconfiado perguntou-lhe o que queria por ali, que ela deveria ir embora e que ele não a ensinaria nada. Ela então o desafia a descobrir o que tem entre os dedos. Exú se abaixa para ver melhor e ela sopra sobre seus olhos um pó mágico que, ao cair nos olhos de Exú, o cega e arde muito. O Orixá Exú gritava de dor e dizia:

- Eu não enxergo nada, cadê meus búzios?
Oxum fingindo preocupação, respondia:
- Búzios? Quantos são eles?
- Dezesseis, respondeu Exú, esfregando os olhos.
- Ah! Achei um, é grande!
- É Okanran, me dê ele.
- Achei outro, é menorzinho!
- É Eta-Ogundá, passa pra cá...

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E assim foi até que ela soube todos os segredos do jogo de búzios, Ifá o Orixá da adivinhação, pela coragem e inteligência da Oxum, resolveu-lhe dar também o poder do jogo e dividí-lo com Exú.

Conta-nos outra lenda, que para aprender os segredos e mistérios da arte da adivinhação, Oxum, foi procurar Exú. Exú, muito matreiro, falou à Oxum que lhe ensinaria os segredos da adivinhação, mas para tanto, ficaria Oxum sobre os domínios de Exú durante sete anos, passando, lavando e arrumando a casa do mesmo e, em troca, ele a ensinaria.

Provérbio:
Maséka - Não faça maldades. Aquele que estiver fazendo maldades, estará fazendo a seus filhos, netos e a si mesmo.

Fonte: Wikipédia

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